sexta-feira, 26 de abril de 2013

Um ano e meio se passou. O país mudou e eu mudei de país. Os textos continuam acabando antes de terminarem. Esse título tá muito longo pra ter algum valor.



Ontem antes de dormir eu li uma história sobre um famoso físico dinamarquês que um dia decidiu escalar a parede de um banco em Copenhague às duas da manhã. Dois policiais viram a cena e iam interceder quando um deles interrompeu a ação: “deixa pra lá, é o Professor Bohr.” Hoje depois de acordar eu olhei para o termômetro do lado de fora da janela e notei que essa é uma manhã de 8 graus na Noruega. Sai para a universidade e ao passar em frente ao supermercado pensei em como é bom o pão que vende-se em supermercados por aqui. Lembrei então do filme “Os miseráveis” que assisti recentemente. Talvez tenha sido o pão, talvez os miseráveis, talvez o fato de eu ser um nordestino em uma terra estranha, talvez tenha sido o Prof. Bohr, eu não sei, a cabeça opera de maneiras incomuns pela manhã, mas o fato é que a minha, depois de encadear os pensamentos Bohr-frio-pão-miseráveis, entendeu que o próximo pensamento não podia ser outro senão aquele sobre a construção de Brasília. Eram uns outros nordestinos em uma outra terra estranha. Naquele tempo, Brasília ficava mais longe do nordeste do que a Noruega. Ao lembrar daqueles trabalhadores, vieram-me as palavras “fome, sede e medo”. Notei então como essas palavras conectam-se, como são capazes de gerar um contexto, como se algo fluísse por entre elas, uma linha em comum que faz com que as palavras mostrem algumas faces distintas de um objeto mais fundamental, um outro objeto, uma coisa maior assim que eu não sei chamar pelo nome porque não sei o nome que tem. A simetria adicional consoante-vogal-consoante presente em fome-sede-medo traz um compasso, um ritmo, que, de certo modo, ajuda a fluir aquela coisa que flui entre as palavras. Alguém precisa começar a dar nome a essas coisas. Todas as palavras são estranhas e esse texto acaba por aqui porque acabaram-me as palavras antes mesmo de começar o texto. Vai ser um quase-texto.